quarta-feira, 24 de setembro de 2008

OS CONVIDADOS AO BANQUETE (Lc 14,16 ss)

A FUTILIDADE DAS DESCULPAS DOS PROFANOS EM FACE DAS COISAS DIVINAS

A parábola dos Convidados ao Banquete forma a segunda parte da parábola da “Festa Nupcial” que um pai fez a seu filho.
O divino Esposo, o Cristo Cósmico, realizou as suas núpcias místicas com a natureza humana de Jesus de Nazaré. Na pessoa de Jesus encontrou o Cristo uma esposa inteiramente fiel, de maneira que nele a humanidade individual está perfeitamente remida.
Mas em outras pessoas da natureza humana não encontrou o Cristo a mesma fidelidade. As excusas e pretextos que os convidados às núpcias crísticas alegam mostram os motivos porque esses convidados ao banquete espiritual não atendenderam ao convite: essas pessoas humanas têm outros amores e outros amantes; não têm fidelidade ao Cristo Esposo.
As excusas ou pretextos desses infiéis continuam a ser os mesmos através dos séculos e milênios: propriedade material, prazeres sensuais e divertimentos sociais – esse panteão dos ídolos humanos impede a aceitação do convite ao banquete nupcial do Cristo.
A parábola do banquete régio e dos seus convidados focaliza magistralmente a mentalidade de todos os profanos de todos os tempos e países, mostrando as excusas e os pretextos fúteis com que os mundanos se recusam a aceitar o convite para entrarem no Reino de Deus aqui na terra.
O primeiro convidado pede que seja excusado de comparecer aobanqete, porque comprou uma quinta e precisa ir vê-la.
Não será uma excusa mentirosa? Ninguém compra um sítio às cegas, sem o ter visto antes de o comprar.
O segundo pede seja excusado, porque comprou cinco juntas de bois e vai experimentá-los.
Também esta excusa é mentirosa; ninguém compra cinco juntas de bois sem os experimentar antes de os comprar.
O terceiro nem sequer pede excusas, mas responde bruscamente que não pode comparecer porque se casou.
Este, pelo menos, não mentiu; não julga necessário pedir excusas por não aceitar o convite; casou-se, tem baile em casa, vai viajar em lua de mel – e como poderia ainda interessar-se por coisas espirituais?
Negócios agropecuários, prazeres carnais e divertimentos sociais – estas três coisas enchem de ídolos o panteon dos profanos, que não podem interessar-se por um ideal superior. Falta-lhes o sabor pelas realidades espirituais do Eu divino; as facticidades e futilidades do ego humano enchem toda a vida deles.
Em face dessa negação da parte dos ricos e gozadores, são convidados os pobres e sofredores de toda a espécie – e estes aceitam de boa vontade o convite e comparecem ao banquete do Reino de Deus.
É experiência milenar que o homem satisfeito consigo mesmo não pode compreender as coisas espirituais; sofre do mal profundo de uma infeliz satisfação consigo mesmo. Para ter fome e sede do mundo superior, deve ele entrar na zona de uma feliz insatisfação consigo mesmo; deve sentir uma inquietude metafísica; deve sangrar duma dolorosa ego-vacuidade e suspirar por uma cosmo-plenitude.
Só depois daquela infeliz satisfação e após essa feliz insatisfação, pode o homem entrar, finalmente, na nova e desconhecida dimensão duma feliz satisfação.
Somente a ego-vacuidade preludia a cosmo-plenitude. O Reino de Deus não é para os ego-plenos, mas somente para os ego-vácuos; só estes serão plenificados pela Teo-plenitude.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede da verdade, porque eles serão saciados”.
“Bem-aventurados os pobres pelo espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”.

“Conduze aqui os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”.
Aos olhos dos profanos, os homens espirituais são cegos, coxos, aleijados, pobres, o rebotalho da sociedade. Quem não corre atrás de bens materiais, prazeres carnais e divertimentos sociais é considerado um tolo, digno de compaixão. E foram precisamente estes que aceitaram de boa vontade o convite ao banquete régio.

No seu livro “Tao Te King” diz o grande pensador chinês Lao-Tse, retratando a mentalidade dos profanos do seu tempo, e de todos os tempos:

“Quem é iluminado por dentro,
Parece escuro aos olhos do mundo.
Quem progride interiormente,
Parece ser um retrógrado.
Quem é auto-realizado,
Parece um homem imprestável.
Quem segue a luz interna,
Parece uma negação para o mundo.
Quem se conserva puro,
Parece um bobo e simplório.
Quem é paciente e tolerante,
Parece um sujeito sem caráter.
Quem vive de acordo com o seu Eu espiritual
Passa por um homem enigmático”.