segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AS VIRGENS SÁBIAS E AS VIRGENS TOLAS (Mt 25, 1 ss.)

É NECESSÁRIO MANTER ACESA A LUZ PERMANENTE DO EU DIVINO, E NÃO APENAS ACENDER LAMPEJOS INTERMITENTES DO EGO HUMANO

“O Reino dos Céus é semelhante a dez virgens”.
Nesta conhecida parábola fala Jesus de almas humanas à espera das núpcias místicas com o divino Esposo. Em plena noite da vida terrestre aguardam elas o advento do conúbio espiritual.
Essas jovens são “parthenoi”, virgens, que ainda não conceberam o Cristo; cinco delas são idôneas, e cinco não, para essa concepção mística.
Todas essas virgens levam consigo as suas lâmpadas, ainda não acesas, mas ao alcance da mão, durante o sono. A diferença entre umas e outras não está nas lâmpadas, que todas têm, mas sim no conteúdo delas: cinco têm óleo em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas, ao passo que cinco só têm as suas lâmpadas vazias, sem óleo nas vasilhas. A sapiência de umas consiste na presença desse óleo, e a insipiência das outras está na ausência desse combustível.
Em todos os tempos, foi o óleo de oliva considerado como símbolo de espiritualidade ou experiência mística. No Antigo Testamento, eram ungidos com óleo os sacerdotes, os profetas e os reis, como pessoas consagradas a Deus.
A palavra grega para ungir é chriein, cujo particípio passado é christós (ungido). Nas paredes das catacumbas de Roma se encontra freqüentemente o monograma do christós – CHR, que em grego são apenas duas letras XP, (CX = CH, P = R), geralmente entrelaçadas em forma de XP, as iniciais do nome Cristo.
A pessoa humana de Jesus foi ungida, totalmente permeada pelo Espírito de Deus, que é o Cristo Cósmico, o divino Logos ou Verbo.
As cinco virgens sábias eram penetradas pelo espírito de Deus, pela consciência da presença do Cristo, mesmo em plena noite.
Óleo é um combustível que alimenta a chama, e, enquanto houver óleo, o fogo não se apaga. A experiência mantém aceso o espírito de Deus na alma.
As cinco virgens sem óleo acendem as suas lâmpadas, mas essas logo se apagam, por falta de combustível. Quem não tem experiência expiritual pode ter lampejos intermitentes, mas falta-lhe a luz permanente da consciência de Deus. O ego humano de boa vontade tem, de vez em quando, ímpetos espirituais, até o ponto de derramar lágrimas de emoção e doçura – mas toda a boa vontade do ego humano não é sabedoria do Eu divino; esta consiste numa atitude permanente, e não apenas em atos transitórios; a sabedoria divina é uma nova dimensão da consciência do ser, e não apenas um modo de agir; é a consciência nítida “Eu e o Pai somos Um... Não sou eu que faço as obras, é o Pai em mim que as faz; de mim mesmo eu nada posso fazer”.
O óleo da sapiência divina é auto-conhecimento, que se revela em auto-realização; é a experiência intuitiva da “verdade libertadora” sobre nós mesmos.
O conhecimento meramente analítico-intelectual do homem profano é como um lampejo em plena noite, uma luz momentânea entre duas trevas.
Todas as dez virgens adormeceram, enquanto aguardavam o Esposo. A vida terrestre é uma espécie de sono. A natureza infra-humana jaz num sono total; o homem comum vive num sono parcial: está mentalmente acordado, porém espiritualmente adormecido. Somente o homem de consciência espiritual está plenamente acordado.
O óleo, mesmo antes de transformado em luz, é potencialmente luz, é lucificável. O homem deve adquirir a idoneidade de poder atualizar a qualquer momento a sua potencialidade espiritual. O que é decisivo é que ele tenha em si o óleo dessa idoneidade espiritual. A aquisição e o desenvolvimento dessa idoneidade lucificável é a razão de ser da vida terrestre do homem. Sem isso, a vida é um circulo vicioso, uma grande falência.

Ocorre na parábola um episódio que revela toda a insipiência das virgens tolas: pedem às suas colegas sapientes que lhes emprestem do seu óleo, para alimentarem as suas lâmpadas que se apagam. Somente um tolo pode proceder tão tolamente de pedir experiência espiritual emprestada. Experiência mística, sabedoria espiritual não é transmissível de pessoa a pessoa; só é adquirível de dentro do próprio ser, como bem fazem ver as virgens sábias: ide e adquiri óleo para vós mesmas.
Nenhum Mestre espiritual, nenhum guru, pode transferir a sua experiência espiritual a seu discípulo; pode apenas mostrar-lhe o caminho por onde o iniciado possa adquirir iniciação, possa tornar-se um iniciado, um auto-iniciado. Não existe nenhuma alo-iniciação, só existe auto-iniciação. Se assim não fosse, teria Jesus iniciado seus discípulos; mas, segundo o Evangelho, ele não iniciou ninguém. Os discípulos de Jesus, e outros, se auto-iniciaram na gloriosa manhã do Pentecostes, na ausência do Jesus visível, mas pela presença do Cristo invisível. Auto-iniciação é o despertamento do Cristo interno. Um Mestre externo pode preludiar essa eclosão do Cristo Cósmico, pode mesmo facilitá-la, mas não a pode realizar no outro. A idéia de alo-iniciação representa, talvez, um dos maiores equívocos da humanidade, e a sua prática é uma grande fraude, uma tentativa de contrabando no Reino dos Céus. “O que vem de fora não torna o homem puro nem impuro, mas somente o que vem de dentro do homem”.

As cinco virgens tolas vão, de fato, adquirir óleo, mas, quando voltam está fechada a porta do banquete nupcial, e elas não conseguem realizar as suas núpcias com o divino Esposo.
Aqui termina a parábola, mas deixa a porta aberta para conclusões tácitas. Se as cinco virgens regressaram com o óleo da experiência adquirida, não teriam elas o direito de serem admitidas ao banquete nupcial do Reino de Deus? Tanto mais que a parábola diz que “o Reino dos Céus é semelhante a dez virgens”, e não apenas a cinco.
É lícito concluir que as cinco virgens retardatárias tenham entrado no Reino dos Céus em outro ciclo evolutivo, posterior ao das suas colegas.
Se é verdade que, na casa do Pai celeste há muitas moradas, não seria lícito admitir a possibilidade de uma evolução em períodos após a existência terrestre?
Certas teologias só admitem a possibilidade de conversão e redenção para os poucos decênios da vida terrestre – como se o livre arbítrio fosse um atributo do corpo físico dissolvido pela morte. Se o livre arbítrio é um atributo da alma sobrevivente à morte, porque não poderia o homem realizar a sua redenção em todo o tempo da existência da sua alma livre? Seria absurdo supor que, durante uns poucos decênios de vida terrestre o homem possa decidir o seu destino para toda a eternidade.
Entretanto, é razoável e prudente que o homem inicie, aqui na terra, essa tarefa, que aprenda pelo menos o abc da sua realização espiritual, para continuá-la em outras regiões do Universo.