segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O FERMENTO (Mt 13, 33; Lc 13, 20 s.)

A EXPERIÊNCIA MÍSTICA TRANSFORMA TODAS AS VIVÊNCIAS PROFANAS

Esta parábola abrange apenas duas ou três linhas. Nasceu, certamente, na cozinha da modesta casinha de Nazaré, onde Maria preparava a massa de farinha para o pão do dia seguinte; e o jovem carpinteiro acompanhava interessado e curioso, todo o processo. Durante a noite, um punhadinho de fermento vivo levedou grande massa de farinha, fazendo-a crescer, crescer – até que toda a massa compacta se transformasse na massa leve e porosa para o pão do dia seguinte.
E logo surgiu na alma intuitiva de Jesus o simbolizado espiritual correspondente a esse símbolo material. Não era isto mesmo que aconteceria com o fermento sagrado do Reino de Deus que ele ia lançar na massa da humanidade profana?
O fermento atua lentamente, silenciosamente, constantemente, de dentro para fora. Ninguém vê a causa invisível dos efeitos visíveis. A qualidade permeia totalmente as quantidades. Do invisível vem o visível.
O fermento é o elemento divino no homem que os hindus chamam Atman, os livros sacros Alma, a nossa filosofia designa pelo Eu central, e Jesus denomina o “Reino de Deus no homem”.
As três medidas de farinha simbolizam os três aspectos do ego humano: material, mental e emocional.
Para que haja transformação do ego pelo Eu, do homem profano pelo homem sacro, deve haver contacto direto entre esses invólucros periféricos da natureza humana e seu conteúdo central; deve haver uma interpenetração entre o seu Eu divino e seus egos humanos. O homem profano, que só conhece o ego e ignora o Eu, não pode levedar-se por si mesmo. O homem místico, que aceita o Eu e rejeita o ego, não pode transformar este, por falta de contacto; pode intensificar o fermento espiritual, mas não transforma os elementos do ego hominal. O homem cósmico, porém, permeia as três medidas do ego humano pelo fermento do Eu divino; verificará uma paulatina transformação da vida externa pela vitalidade da essência interna. Em vez de um resignado conformismo, ou de um fugitivo escapismo, realiza o homem crístico uma total transformação da sua natureza.
Quando falamos na necessidade de contacto entre o fermento e a massa de farinha, não nos referimos a um contacto material ou social. Por via de regra, o contacto externo é inversamente proporcional ao contacto interno; um homem social e sociável é, geralmente, incapaz de carregar devidamente a sua bateria espiritual; enquanto ele não cortar os fios-terra da sua permanente dispersividade, não acumulará energia espiritual e não beneficiará os homens. Somente um homem solitário em Deus pode ser proveitosamente solidário com os homens.
Daí, a imperiosa necessidade de profunda e diuturna meditação e de prolongado retiro espiritual.
É ilusão de muitos profanos pensar que um místico, vivendo em longínqua e ignota solidão, não tenha contacto real com a humanidade. As invisíveis auras espirituais de um verdadeiro místico ou homem auto-realizado, mesmo que ninguém saiba de sua existência, atuam poderosamente sobre outros homens, suposto que estes sejam receptíveis para esse recebimento de fluidos espirituais. E esses fluidos invisíveis atuam a qualquer distância. O contacto real não é necessariamente material nem social. Aliás, a nossa própria ciência já não identifica o real com o material; muitas vezes, o real é totalmente imaterial. Uma vibração aérea produzida por um agente material, como a voz humana, morre a pouca distancia, ao passo que uma vibração eletrônica, totalmente imperceptível, atravessa espaços imensos, vai até à lua e além.
Basta que um homem eleve à mais alta voltagem o fermento da sua espiritualidade – e beneficiará a todos os beneficiáveis. Um receptor de rádio não tem necessidade de saber onde se acha a estação emissora; esta lança as suas ondas eletrônicas em todas as direções, e qualquer receptor devidamente afinado pela freqüência do emissor receberá a irradiação.
É importante que haja estações de alta voltagem espiritual na humanidade – e todos os homens devidamente afinados serão beneficiados por esses emissores místicos, embora totalmente desconhecidos. Neste sentido escreveu Mahatma Gandhi: “Quando um único homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de muitos milhões”.
No mundo da metafísica e da mística vale a mesma Lei que a ciência conhece no mundo da física. Nenhuma energia se perde – todas as energias se transformam.