quinta-feira, 23 de outubro de 2008

EPÍLOGO

A Mística das Beatitudes resume, em duas palavras, o que o Mestre disse depois de proferir essas oito proclamações, que representam a plataforma do Reino de Deus e o auto-retrato de sua própria alma:
“Vós sois o sal da terra”.
“Vós sois a luz do mundo”.
Estas duas alegorias formam como que o alicerce, e ao mesmo tempo a pedra de fecho do majestoso santuário sustentado pelas oito colunas das bem-aventuranças. Esse octógono tem o seu fundamento nas alturas do céu, como a cidade santa de Deus, que, segundo o Apocalipse, desce de cima para baixo; tem as raízes no céu, e se ramifica, floresce e frutifica na terra.
Quando algum homem já é sal e luz, realiza com espontânea facilidade o conteúdo das Beatitudes, que aos profanos e inexperientes podem parecer absurdas ou extremamente difíceis.
O sal dá sabor a todos os alimentos – assim como a experiência espiritual é um misterioso condimento que permeia de sapiência todas as insipiências, e dá sapidez divina a qualquer insipidez da vida humana. O sal, se fosse tomado em estado puro, não seria agradável, mas, quando usado discretamente como aditamento, dá sabor a tudo. É a espiritualidade sensata e dosada que transforma todas as materialidades e preserva-as, ao mesmo tempo, da corrupção.
A luz, essa realidade mais sutil e invisível do Universo, dá vida, alegria e beleza a todas as creaturas da terra. Sem ela, o Universo não seria um cosmos, mas um caos de morte e treva.
Estas duas alegorias, sal e luz, sabor e vida, são a quintessência da filosofia e poesia do Nazareno. Nelas se aliam a metafísica da verdade e a mística da beleza. Bem se poderiam aplicar a estas alegorias as palavras de Mahatma Gandhi: “A verdade é dura como o diamante – e delicada como flor de pessegueiro”.
Por esta razão, acrescentamos às Beatitudes este remate metafísico-místico, coroa e alicerce do santuário da sabedoria cósmica do Nazareno.